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Em cartinha para Papai Noel, criança pede comida para a família; pais estão desempregados

02 Dez 2019 - 06h33Por Marcos Escrivani
Em cartinha para Papai Noel, criança pede comida para a família; pais estão desempregados - Crédito: Marcos Escrivani Crédito: Marcos Escrivani

Uma simples cartinha endereçada ao Papai Noel, na tarde de sexta-feira, 29, causou comoção em internautas. Uma criança de 2,5 anos e meio pedia alimentos para a família. Seus pais estão desempregados. As frases endereçadas ao Bom Velhinho fizeram com que a reportagem do São Carlos Agora durante a noite do mesmo dia e na manhã de sábado, 30, buscasse quem seria a família e obteve êxito.

Raphaella, a autora da carta, de 2,5 anos; o irmãozinho Rhayllon, 6 meses; a mãe, Silmara de Oliveira Almeida da Silva, 21 anos e o pai, Cléo Rafael da Silva, 36 anos moram em uma casa alugada na rua Carolina Maria Teixeira Cotrim, 698 (antiga rua 1), no Jardim Zavaglia.

A residência é simples, mas muito bem cuidada. A geladeira, praticamente vazia. Bem como a dispensa, onde vão os alimentos. Frutas, nenhuma. Bem como leite para as crianças.

Na manhã de sábado, a reportagem acompanhou o dia-a-dia da família. Envergonhada e muito tímida, Silmara falou com o portal, enquanto o marido vendia sacos de lixo na Avenida Dr. Carlos Botelho, região da USP. Nem mesmo a chuva intimidou o pai de família.

A HISTÓRIA

Natural de Cariacica/ES, Silmara disse que veio para São Carlos com 17 anos, junto com a família. “Tentar algo melhor”, disse. Nesse meio, conheceu o marido, casou e vieram os filhos. “Sou cuidadora de idosos. Mas perdi meu trabalho. O mesmo aconteceu com o Cléo”, afirmou. Estamos há aproximadamente quase dois anos sem trabalho”, contou, com Rhayllon em seu colo e o carrinho de bebê ao lado.

“Meu marido não consegue nem bicos durante a semana. Não aparece nenhum trabalho. Então ele começou a vender sacos de lixo para conseguir algum dinheiro. Eu fico cuidando das crianças”.

SEM ALIMENTO

Com a voz embargada, Silmara contou o que a levou a buscar ajuda nas redes sociais. “Confesso que fiz uma página no Facebook com um nome falso (Nalva Silva). Mas tenho medo. Sou mãe de família. Temo pelos meus filhos. Meu sogro (Esmeraldo), que também é bem humilde, deu a ideia da cartinha. Ele escreveu e colocou o nome da Rapha. Peço comida, leite (Nestogeno Fase 1), frutas e roupas usadas para meus filhos. Não quero dinheiro. Quero apenas que eles tenham um Natal com alimento na mesa”, disse Silmara.

SEM TRABALHO, CONTAS A PAGAR

Em momento algum, durante a reportagem, o casal pediu dinheiro. Mas durante a entrevista, comentaram que buscam trabalho. Silmara é cuidadora de idosos em janeiro, Rhayllon, de 6 meses, conseguiu uma vaga no Nosso Lar. “Já mandei currículos e terei chance de trabalhar. A Rapha vou deixar com minha sogra”, faz planos. “Se tenho celular hoje é porque meus sogros pagam. Senão nem isso teria e não conseguiria colocar a cartinha na Feira do Rolo”.

Cléo, por sua vez, é serviços gerais. Mas um acidente que comprometeu parcialmente os movimentos do seu pé esquerdo, fez com que perdesse o trabalho e não conseguisse outro. “Procuro ocupação, mas não consigo. Na verdade, nem bicos. Mas o senhor tiver alguma coisa (capinação, serviço de pedreiro”, me chama que eu encaro”, disse Cléo.

Ainda na entrevista, Silmara comentou que as contas de água e energia elétrica estão atrasadas e que na casa onde moram, a proprietária por enquanto não cobra o aluguel penalizada pelo momento que a família passa. “Nem tínhamos o gás de cozinha até o senhor aparecer”, revelou a mãe de família.

AFLIÇÃO E DESTRUÍDO POR DENTRO

Indagada como se sentia ao ver o marido vendendo sacos de lixo e com os filhos sem alimentos e nem roupas, Silmara demorou a responder. “Aflição, desespero. Não temos trabalho, nossos filhos sem alimento. Quando morava em Cariacica, quando criança, passei por privações. Mas nem tanto. É uma cena que me entristece. Queria apenas um Natal com comida na mesa e roupinhas em meus filhos. Podem ser usadas. Está ótimo”, comentou.

A mesma pergunta, o SCA fez ao pai, retirando-o das ruas enquanto vendia os sacos. “Tenho vergonha, mas meus filhos precisam. Tento ser alegre com as pessoas, brinco. Mas por dentro fico destruído. Nem a casa que moro é minha”. Questionado sobre seu sonho dourado, disse. “Ter minha casinha, meu trabalho. Alimento para minha família. Mas minha deficiência não permite que eu sonhe demais. Minha coordenação motora é comprometida e tenho que viver essa realidade”.

R$ 200

Quando tem dinheiro Cléo disse que compra ingredientes e Silmara faz trufas que ele também vende. “Mas é difícil, pois nunca sobra muito”. Então a saída semanalmente é vender sacos de lixo, sempre às sextas-feiras, sábados e domingos. Muitas vezes acompanhado da esposa e do filho pequeno.

“É quando consigo mais dinheiro”, disse ao se referir a R$ 200 semanais. “Hoje já consegui R$ 25”, ao exibir notas de R$ 20 e outra de R$ 5.

A CARTINHA

Sem perspectiva a curto prazo, Silmara disse que viu na cartinha para Papai Noel a chance de fazer um Natal feliz para seus filhos. “Sinto muita vergonha. Mas deixei meu orgulho de lado, pois a gente não tem dinheiro e eles não têm culpa”, resumiu, ao se referir a ação desesperada.

"Papai Noel. Meu nome é Raphaella tenho um irmão que se chama Rhayllon moro com meus pais. Eles estão desempregados já faz um tempo. Quando vai se aproximando o Natal eu fico triste. Meu pai vende saco de lixo na rua. Um dia tem outro não. Não tem nem alimento para comer. Nem o leite do meu irmão bebê. Tenho 2 anos e 5 meses e meu irmão 6 meses...

Por isso venho por meio dessa carta pedir ajuda. Como o Dia de natal está se aproximando peço que você me ajude com roupas, alimentos, leite, brinquedos, calçados.

O que Deus toca nos seus corações. Que Deus abençoe cada um que entre em contato”.

CAMPANHA SOLIDÁRIA

Diante de tal história, o São Carlos Agora inicia na manhã desta segunda-feira, 2, uma campanha solidária no sentido de pedir, em nome de Silmara, Cléo, Rhayllon e, principalmente Raphaella doações para que a família tenha um final de ano farto, solicitando alimentos, frutas, roupas, calçados e brinquedos. “Gostaria, se possível, se pessoas puderem doar um armário, um tanquinho para eu poder lavar as roupas e uma cadeirinha vibratória para que meu filhinho possa andar e eu limpar a casa”, disse Silmara.

Quem puder fazer alguma doação, basta ir até a rua Carolina Maria Teixeira Cotrim (antiga rua 1), 698, no Jardim Zavaglia e fazer a doação. Ou então entrar em contato pelos fones 997134313 ou 996453714 (WhatsApp).

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