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Da África para o ICMC: calouro chega a São Carlos para estudar computação

16 Mar 2016 - 06h01Por Henrique Fontes
Foto: Henrique Fontes - Foto: Henrique Fontes -

Ele viajou milhares de quilômetros carregando na bagagem o sonho de um dia tornar a empresa do pai uma multinacional. "Eu escolhi Ciências de Computação porque amo essa área desde quando meu pai comprou um computador ainda na minha infância. Ele tem uma empresa do ramo de informática e tomei como objetivo me formar na área para fazer com que o negócio cresça cada vez mais", diz, com os olhos distantes, Josué Kabongo, que veio da República Democrática do Congo, na África, estudar no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos.

"O nível da computação no meu país ainda é muito baixo, por isso procurei alternativas para que eu pudesse adquirir um conhecimento de qualidade", conta o estudante, que gosta da área de desenvolvimento de software. Kabongo foi um dos selecionados do Programa de Estudantes-Convênio de Graduação (PEC-G), do Ministério da Educação, que oferece oportunidades de formação superior a cidadãos de países em desenvolvimento com os quais o Brasil mantém acordos educacionais e culturais. Avisado pelo cunhado sobre a oportunidade, ele resolveu se arriscar e, mesmo sem conhecer muito sobre o país do futebol, foi incentivado pelo pai, o qual lhe disse que muitas oportunidades se abririam.

Durante o processo de inscrição, o calouro deveria escolher duas cidades do Brasil para se candidatar a estudar. Optou por São Paulo e Brasília. "Quando comecei a pesquisar sobre as universidades desses dois municípios e descobri que a USP é a melhor da América Latina, fiquei ainda mais motivado a vir para o Brasil". Ele foi selecionado pela USP em São Paulo e direcionado ao campus de São Carlos, onde estava disponível, no período diurno, o curso por ele escolhido.

O estudante desembarcou no Brasil em janeiro de 2015 e passou cerca de 8 meses na capital nacional aprendendo português na Universidade de Brasília (UNB). Durante esse período, ficou hospedado em um alojamento de uma igreja local, onde convivia com outros companheiros do Congo. Como a língua oficial do país africano é o francês, a maior preocupação de Kabongo era aprender português, pois só assim estaria apto para fazer a graduação.

Nos primeiros meses em terras brasileiras, o africano descobriu algumas diferenças culturais curiosas: "Os brasileiros não são tão diretos. Por exemplo, se eu estou usando uma camisa feia, você não vai falar isso pra mim, vai dizer que estou bem. Eu sofri com isso quando cheguei ao Brasil, porque era sempre muito sincero com as pessoas e descobri, com o tempo, que algumas vezes isso poderia magoá-las", diz Kabongo.

Há um mês no ICMC, o aluno congolês parece estar se habituando bem à nova rotina: "As pessoas aqui são muito prestativas e essa característica é muito parecida com a do meu povo, o que ajuda na minha adaptação. Apesar do pessoal da minha turma ainda estar um pouco tímido, estamos nos relacionando bem. Já fiz até trabalho de faculdade na casa de colegas", revela Kabongo, que divide um quarto do alojamento da USP com outros dois estudantes.

MOTIVAÇÃO DENTRO DE CASA

Kabongo é natural da cidade de Kinshasa, capital de seu país. Ele tem seis irmãos e alguns deles já foram para o exterior fazer faculdade, fato que o motivou ainda mais a procurar opções para estudar fora do Congo. A oportunidade de viver em um cenário totalmente diferente do habitual, com a possibilidade de aprendizado, é de grande valor para o estudante: "São outras pessoas, com diferentes formas de pensar. Quando você viaja, sua mente se abre, tanto no aspecto cultural quanto intelectual. Espero sair da melhor Universidade do Brasil um ótimo profissional e como um bom exemplo para o meu povo", afirma o calouro.

Ele recomenda que outros estudantes sigam pelo mesmo caminho. "Eu convidaria a virem para o Brasil todos que pensam em fazer ensino superior no exterior. O país oferece muitas oportunidades aos estrangeiros, com a possibilidade de estudar nas melhores universidades da América Latina. Não me arrependo de ter vindo para cá, com certeza fiz a escolha certa", finaliza. (Assessoria de Comunicação ICMC/USP)

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