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sexta, 07 de novembro de 2025
SÃO CARLOS 168 ANOS

CIRILO BRAGA: "O comércio físico de São Carlos não vai acabar, mas precisa se transformar"

Para memorialista, calçadão da rua General Osório ganharia impulso com instalação de lojas de redes de fast food

05 Nov 2025 - 11h44Por Marco Rogério Duarte
Calçadão da General Osório - Crédito: DivulgaçãoCalçadão da General Osório - Crédito: Divulgação

Em tempos de inteligência artificial, indústria 4.0 e revolução biotecnológica, o comércio também tem, obrigatoriamente, que respirar ares de modernidade. A análise é do memorialista, escritor e cronista Cirilo Braga.

“O varejo físico nunca desaparecerá, mas terá de se transformar, ser criativo e fazer um esforço maior para conquistar o consumidor. O comodismo e a estagnação serão os principais algozes dos lojistas, e não o comércio eletrônico”, destaca. Cirilo também revela a crise de identidade do Mercado Municipal de São Carlos. “Em São Carlos ainda se permitem aspectos que lembram a estagnação do passado, e o maior exemplo é o Mercado Municipal, que está longe de seguir os parâmetros de seus congêneres no Brasil e no mundo. O Mercado Municipal vive uma crise de identidade, e seu melhor caminho seria se transformar em um centro gastronômico”, sugere.

SÃO CARLOS AGORA – A cidade nasceu com armazéns e pousadas. Depois veio o Mercadão Municipal, o Calçadão, as grandes redes de supermercado e do varejo, lojas de departamentos e shoppings. Como o senhor viu esta evolução em 168 anos?

CIRILO BRAGA – Devemos considerar que até meados do século passado grande parte da população vivia na área rural, e o comércio local era basicamente destinado a suprir as necessidades dos trabalhadores do campo. Não por acaso o Mercado Municipal foi construído próximo à "Rua da Ponte", antigo nome da Avenida São Carlos, onde eram comercializados produtos hortifrutigranjeiros ainda na Vila de São Carlos do Pinhal. No início do século passado, o comércio na área urbana era formado por estabelecimentos que, em sua maior parte, foram instalados por imigrantes. Surgiam então casas tradicionais, como lojas de armarinhos, armazéns e lojas de variedades, como a Casa Violeta. É importante destacar que a cidade foi um importante polo moveleiro. Na etapa seguinte, os alfaiates estabeleceram outro diferencial, e São Carlos tornou-se também um polo de produção e distribuição de sorvetes.

O comércio tradicional se manteve sem grandes transformações até os anos 1970. A década seguinte tornou indispensável a criação do Calçadão, para acompanhar a tendência de cidades médias que incrementaram o comércio de rua. Começavam a chegar as redes de supermercados e, logo depois, um anseio que tardou a se concretizar: a implantação de um shopping center, que ocorreu somente em 1996. Nos anos 1970 e 1980, o comércio local enfrentou um período de estagnação que só foi superado com a ampliação do horário de funcionamento das lojas, permitindo a chegada de hipermercados e redes franqueadas de diversos setores, especialmente da alimentação.

SCA – As mesmas cidades que tiveram Mercadão e Calçadão no passado, hoje têm shopping. Isso é coincidência?

CIRILO BRAGA – As cidades acabam se uniformizando na área central para impedir a fuga de consumidores. Mas o ideal seria conciliar atrativos para compras e oferta de lazer para a população. Em São Carlos ainda se conservam aspectos que lembram a estagnação do passado, e o maior exemplo é o Mercado Municipal, que está longe de seguir os parâmetros de seus congêneres no Brasil e no mundo. O Mercado vive uma crise de identidade, e seu melhor caminho seria se transformar em um centro gastronômico.

A instalação de shoppings supriu a necessidade de maior comodidade e segurança para compras e lazer, mas o comércio de rua não perdeu o seu vigor, o que só veio a ocorrer mais recentemente. Isso se deve mais à concorrência do comércio eletrônico do que propriamente à dos dois shoppings da cidade. Quando falamos de comércio de rua, não nos referimos apenas ao centro, mas também aos bairros, onde o setor varejista é muito ativo. É curioso observar que, em termos de avanço comercial, o parâmetro de São Carlos sempre foi a vizinha Araraquara, onde lojas de departamentos e shoppings chegaram antes, o que causava certo desconforto, sobretudo nos anos 1970 e 1980.

SCA – São Carlos comportaria uma Rua 24 Horas, tal como Jaime Lerner criou em Curitiba?

CIRILO BRAGA – A Rua 24 Horas em Curitiba se transformou e hoje não é mais como foi concebida por Jaime Lerner. Hoje é mais conhecida como ponto de partida de ônibus da linha turística. Em cidades interioranas, creio que o modelo não funciona. Em São Carlos, com 260 mil habitantes, mais razoável seria modernizar o Mercado Municipal e o Calçadão da Rua General Osório, que já ganharia impulso com a instalação de lojas de redes de fast food, por exemplo. Mas comenta-se que o alto valor da locação de imóveis inviabiliza investimentos na região e pode gerar sua degradação, o que seria um grande prejuízo para a cidade num futuro próximo. Oxalá isso não ocorra.

SCA – O comércio virtual está aí e agora temos também lojas sem funcionários, com autoatendimento. O varejo físico está ameaçado?

CIRILO BRAGA – O comércio eletrônico obriga o setor varejista a se reestruturar, pois mesmo o comércio tradicional pode se inserir nesse formato, sem abrir mão do contato e do atendimento diferenciado que o comércio presencial proporciona. Para isso, é necessário investir em atrativos ao consumidor, sobretudo em datas como Natal, Dia das Mães, Dia das Crianças e outras em que as pessoas buscam novidades. O varejo físico nunca desaparecerá, mas terá de se transformar, ser criativo e fazer um esforço maior para conquistar o consumidor. O comodismo e a estagnação serão os principais algozes dos lojistas, e não o comércio eletrônico.

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