quinta, 25 de abril de 2024
Mais atrapalha, do que ajuda

Alta da Selic é estratégia monetária ineficaz contra a inflação, avalia Ciesp São Carlos

Entidade diz que iniciativa é infrutífera para sanar problemas que afetam a economia brasileira

09 Mai 2022 - 06h59Por Redação
Marcos Santos: “A taxa Selic reflete diretamente no custo do dinheiro encarecendo empréstimos a empresas e famílias” - Crédito: DivulgaçãoMarcos Santos: “A taxa Selic reflete diretamente no custo do dinheiro encarecendo empréstimos a empresas e famílias” - Crédito: Divulgação

A elevação da Selic para 12,75% ao ano, anunciada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central na última quarta-feira, 4, tem potencial para dificultar a retomada do crescimento do PIB este ano. A avaliação é do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp).

O Banco Central vem elevando a Selic desde março do ano passado na tentativa de conter a inflação. Este foi o décimo aumento seguido da taxa básica de juros da economia e é o maior aumento desde 2017, quando chegou a 13%. Para o Ciesp, contudo, a decisão (unânime) do Copom é mais um agravante à situação enfrentada atualmente pelo setor industrial.

“A conjuntura atual não é nada favorável para as indústrias, que ainda sofrem com o rescaldo da pandemia, que não deixou de ser preocupante, especialmente com o novo lockdown em Xangai, na China, com a crise global de abastecimento em várias cadeias de valores, sem contar os problemas crônicos internos, como impostos altos, burocracia, insegurança jurídica e desentendimento entre os Três Poderes”, ressalta Rafael Cervone, presidente do Ciesp. 

A situação é preocupante e já tem gerado reflexos em todos os setores. O diretor titular do Ciesp São Carlos, Marcos Henrique dos Santos, observa que a escalada da taxa de juros desde 2021 não está contendo a inflação. “O mercado aumentou outra vez a estimativa para a inflação em 2022. A projeção do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é de 7,89%, mais do que o dobro da meta de 3,5%. Isto mostra que o caminho está errado”, analisa.

Os reflexos, obviamente, são sentidos não só pela indústria, mas por toda a sociedade. “A taxa Selic reflete diretamente no custo do dinheiro encarecendo empréstimos a empresas e famílias, infelizmente o Brasil é hoje o 2º no ranking dos países com juros mais altos do mundo. Num momento em que temos uma janela de oportunidades para a reindustrialização, com retomada da produção local para diversos insumos que hoje são importados, a alta dos juros desestimula qualquer intenção de investimentos por parte das indústrias locais”, destaca Santos.

CENÁRIO

A majoração internacional de mercadorias, bens e insumos com impacto direto no preço final dos produtos, como petróleo, commodities agrícolas, adubos, minério de ferro e carvão, já era uma tendência causada pela pandemia e foi agravada pela invasão da Rússia à Ucrânia.

A soma desses aumentos com a redução da renda média dos brasileiros já é um fator suficientemente forte para provocar retração do consumo, objetivo buscado com a elevação da Selic. Vale ressaltar que 40% dos itens que compõem o IPCA têm origem em preços administrados pelo governo e não sujeitos aos efeitos da Selic.  

Para o presidente do Ciesp, a medida é, portanto, ineficaz, tanto quanto desproporcional. “Para termos ideia do seu exagero, os Estados Unidos anunciaram, no mesmo dia, aumento de 0,5 ponto percentual em sua taxa, que passou a variar de 0,75% a 1% ao ano. Foi a maior alta em mais de duas décadas, e lá existe certa pressão de demanda, pois a retomada econômica e do consumo é mais acentuada do aqui, justificando tecnicamente a decisão”, compara.  

O desemprego, embora haja uma tênue recuperação, continua muito alto, com cerca de 12 milhões de pessoas em busca de colocação no mercado de trabalho. “Precisamos, com urgência, reequilibrar os juros e a flutuação do câmbio, de modo a estimular de imediato o nível de atividades. E, de modo definitivo, não se pode mais adiar as reformas estruturais que darão ao País uma nova perspectiva de crescimento sustentado, com impostos menores e um Estado menos oneroso e mais eficiente no atendimento à sociedade. Não podemos continuar com soluções de “puxadinho”, principalmente quando são infrutíferas contra os principais problemas que têm afetado nossa economia”, conclui Cervone.

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