
Os preços do arroz ao produtor brasileiro acumulam queda de 20% no ano, indicando que os consumidores devem se beneficiar na hora de comprar o produto nos supermercados. A queda nos preços do arroz ocorre por um esperado aumento de mais de 15% na produção brasileira, com boa recuperação na colheita gaúcha, além de uma melhora na oferta global.
De acordo com a Conab, a colheita de arroz também segue em bom ritmo, com mais de 60% da área plantada já colhida. “As condições climáticas nas principais regiões produtoras, até o momento, são favoráveis para o desenvolvimento da cultura”, informou o órgão.
No caso do feijão, o aumento previsto na produção é de 2,1%, podendo chegar a 3,3 milhões de toneladas somadas as 3 safras da leguminosa. A elevação acompanha a melhora na produtividade média das lavouras, que sai de 1.135 quilos por hectare para 1.157 quilos por hectare, uma vez que a área se mantém estável em 2,86 milhões de hectares.
O arroz, quinto item alimentício de maior peso no IPCA, acumula variação negativa de 3,99% em 12 meses, enquanto frango em pedaços, contrafilé e carne de porco subiram 10,95%, 21,47% e 20,22%, respectivamente.
O economista Paulo Cereda destaca que a queda do preço do arroz já era algo previsível. “A queda do preço de arroz era esperada com o aumento da produção. No ano passado com as enchentes no Rio Grande do Sul houve muitas perdas neste produto. Agora, com vários agricultores voltando à plantar e a colher o arroz, os preços tendem mesmo a cair. Algo que já era esperado”, afirma ele.
Estoques de arroz
Carlos Cogo, sócio-diretor da consultoria Cogo Inteligência em Agronegócio, disse que a tendência de baixa nos preços de arroz "deve persistir nestes meses de colheita no Brasil" e só será interrompida se as exportações começarem a ganhar ritmo, o que ainda não aconteceu.
Essa conjuntura atenua o impacto de alimentos para a inflação, disse ele, citando também o feijão como um fator de baixa importante
No caso do arroz, avaliou Cogo, a queda permitirá que o governo volte a recompor estoques, por meio dos Contratos de Opção de Venda (COV) oferecidos pela estatal Conab.
"A ideia deles (produtores) é aproveitar o afundamento de preços para exercer opções", disse Cogo, estimando, contudo, que o volume que vai para estoques públicos será relativamente pequeno, de cerca de 90 mil toneladas.
A Conab tinha orçamento de R$ 1 bilhão para um programa COV de 500 mil toneladas de arroz, mas acabou usando R$ 162 milhões por conta do menor interesse de produtores, segundo dados da estatal - que, na semana passada abriu a possibilidade de o produtor antecipar de agosto para abril o exercício das opções.
Cogo também comentou sobre a pressão "altista" do milho, de outro lado, com impacto em "todas cadeias de proteínas", puxando inflação para cima de produtos como frango, carne suína, leite, ovos e bovinos.
MILHO EM ALTA - O milho, na praça referencial de Campinas, opera em torno de R$90 a saca de 60 kg. Esse é o maior valor nominal do milho em cerca de três anos, com alta de mais de 23% em 2025, segundo dados do Cepea, da Esalq/USP.
No caso do milho, o Brasil começou o ano com estoques baixos. Há forte demanda da indústria de etanol e de carnes, além de preocupações com a segunda safra, a maior do país, que ainda precisa contar com o clima nos próximos meses para confirmar as previsões.
A alta do milho está entre os fatores que podem provocar uma inflação acima da meta em 2025 -- de 3,0%, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos --, em um momento em que os preços dos alimentos têm preocupado integrantes do governo sobre o impacto disso na popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Para Paulo Cereda, o milho, assim como o trigo e outros cereais, compõem uma cadeia produtiva longa da indústria alimentícia. “O milho é insumo principalmente para a indústria de ração. Temos um ajuste no mercado mundial com o tarifaço do Donald Trump. Poderemos ter um aumento da demanda do milho e da soja brasileira no mercado internacional, o que pode causar alta nos preços, com vantagens competitivas maiores para exportar o produto e não vender no mercado interno”, comenta ele.