quinta, 28 de março de 2024
Memória São-carlense

Zezinho Santilli, a “Voz de Ouro” encantou os amantes da boa música

22 Jun 2018 - 06h31Por (*) Cirilo Braga
Zezinho Santilli, a “Voz de Ouro” encantou os amantes da boa música - Crédito: Arquivo/SCA Crédito: Arquivo/SCA

Chamou-se José Antonio Santilli, o Zezinho Santilli (1922-2003), um notável cantor e compositor são-carlense conhecido como “a voz de ouro”, que viveu entre 1922 e 2003 e gravou várias canções nos anos 1940 e 1950 quando chegou a se apresentar com sucesso na Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Na época, a emissora era líder de audiência no Brasil e além do Repórter Esso e do Trem da Alegria, mantinha diversos programas de auditório, uma febre naquele momento.

Com sua voz marcante, Zezinho Santilli interpretava de maneira personalista sucessos como “Rosa de Maio” e “Nada além”, e também composições próprias, como “Ciúme, castigo de quem ama”, “Maria que olhava pra todos” e “Garçom” entre outras, gravadas entre 1958 e 1960.

No riquíssimo panorama musical de São Carlos, então conhecida como “Athenas Paulista” pela existência de muitas escolas, muita gente tinha despertado o gosto pela música,não apenas a popular como a erudita, quando  despontavam os instrumentistas da orquestra sinfônica de São Carlos, na Escola Dante Alighieri.  Aqui, um parêntesis: na segunda metade dos anos 40, foi criado o Conservatório Musical de São Carlos, da professora Cacilda Marcondes Costa, que nasceu em 1947 – um dos períodos mais férteis da educação musical – e se manteve durante décadas.

Mas o “métier” de José Santilli era o canto que o aproximava das grandes vozes do cenário artístico do Brasil.

Segundo registro da imprensa local, em 1941 o cantor Orlando Silva convidou-o para uma apresentação na cidade, dividindo os aplausos com o violonista Paulo Noronha Lisboa nos acompanhamentos. Pesquisador de MPB, Zezinho manteve um programa radiofônico chamado “Na poeira do tempo” em que homenageava os grandes nomes dos anos dourados da música brasileira. Em São Carlos, onde era também empresário do ramo de imóveis, responsável, entre outros, pelo empreendimento do edifício Racz Center, na região central da cidade, era reconhecido por sua privilegiada técnica vocal.

Por muitos anos, Santilli teve participação na vida noturna paulistana e são-carlense.  A “Coluna do Adu”, publicada durante quatro décadas na imprensa local pelo professor Aduar Kemell Dibo o tinha como uma das personalidades mais assíduas. Eram frequentes os registros de suas apresentações, como a de abril de 1977 quando acompanhado de músicos interpretou antigas canções de todos os tempos, para satisfação de Adu e de uma seleta plateia presente ao Bar Maneco.

Se o Brasil daqueles tempos tinha um panorama difícil, caminhando lentamente para abertura política, ouvir um cantor daquela qualidade era um alívio, um sortilégio. Uma foto do artista estampou a edição do dia 23 de abril, com a observação: “Zezinho mostrou que está em boa forma e agradou bastante. Foi muito aplaudido”, observou Aduar,que era seu fã e gostava de ouvir Santilli cantar a canção “Rosa de Maio”, de Mário Lago.

Em junho de 1981, reuniria os amigos no Café Concórdia para o lançamento do LP “Zezinho Santilli Especial” pela gravadora Califórnia. E no princípio dos anos 1990 comandava na rádio Universitária o Programa Na poeira do tempo com músicas e poesias.

Em julho de 1977, o artista fez parte do júri do o show musical “Buzinadas do Chacrinha”, no São Carlos Clube, vencido por Carlos Esperança que se apresentou muito bem, mostrando desembaraço no palco e boa interpretação ganhando as preferências do público. Santilli esteve acompanhado no júri por Jamir Schiavone, Jacy Butcher, Dr. Euvaldo e Ricardo dos Santos. Foi a primeira vez que Chacrinha veio a São Carlos. Bons candidatos se apresentaram naquela noite quando muita gente revelou suas qualidades artísticas.

Zezinho Santilli costumava receber amigos em seu escritório na Avenida São Carlos, como o Professor Ercílio Araújo Filho e o próprio Adu – que com razão o chamada de “enciclopédia musical”.Naqueles encontros, fazia valer uma prodigiosa memória ao recordar autores, melodias, e letras de grandes nomes da música brasileira. Santilli viveu num tempo em que as músicas encantavam o público pelo ritmo, letra e emoção que faziam com que as canções perdurassem por muitos anos nas paradas de sucesso, resistindo aos modismos passageiros.

No final de 1998, o cantor recebia uma marcante homenagem do São Carlos Clube: Treze cantores-instrumentistas prestaram tributo a seu talento, recebendo calorosos aplausos de um grande público que reconhecia sua marca no cenário musical de nossa cidade.

José Antonio Santilli faleceu em 2003, deixando saudades e  grandes lembranças para uma grande legião de admiradores do talento da “Voz de Ouro”.

Em 2015, seu nome foi atribuído à Avenida, que liga a rotatória do condomínio Swiss Park ao campus II da USP, mediante iniciativa do vereador Marquinho Amaral, oficializada pela Lei 17.437, sancionada em 29 de abril daquele ano.

(*) O autor é cronista e assessor de comunicação em São Carlos  (MTb 32605) com atuação na Imprensa da cidade desde 1980. É autor do livro “Coluna do Adu – Sabe lá o que é isso?” (2016).

Esta coluna é uma peça de opinião e não necessariamente reflete a opinião do São Carlos Agora sobre o assunto.

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