terça, 23 de abril de 2024
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Agressividade infantil

24 Set 2018 - 07h00Por (*) Bianca Gianlorenço
Agressividade infantil -

Muitas crianças começam a apresentar um comportamento agressivo de uma hora para a outra. Bater nos colegas de escola, xingar e bater nos pais, passa a ser algo “comum”. Esse comportamento pode ser desencadeado por vários motivos, é preciso investigar a causa.

Quando é contrariada, a criança ainda não tem maturidade emocional para se controlar e pode acabar explodindo. Algumas choram, outras partem para a ação, estapeando ou mordendo. Esse descontrole deve ser investigado.

O que acontece de fato é que toda criança tem dificuldades para controlar suas emoções, mas a maneira como ela é tratada em casa tem uma influência grande na expressão desses sentimentos.

Nos primeiros anos de vida precisamos ser atendidos imediatamente em nossas necessidades, o que é explicado pela psicanálise: o homem, quando nasce, tem apenas a primeira estrutura da mente, que representa os instintos. Ou seja, um bebê que tem fome, chora sem pensar. Ele não vai esperar como costumam fazer os adultos. Ao longo dos anos, vai-se formando o Ego, que é responsável por desenvolver no indivíduo a capacidade de enfrentar as adversidades ou os desejos não atendidos. Quanto maior for a tolerância à frustração, mais o indivíduo pode se relacionar bem consigo mesmo e o mundo. No caso das crianças, os pais são parte fundamental desse aprendizado.

Causas da agressividade:

Não podemos pensar que todas as crianças são naturalmente agressivas, pois alguns fatores externos estão envolvidos nesse processo. Um deles está ligado ao fato de a criança observar ou conviver com a violência, a culpa ou o orgulho que ela é estimulada a sentir após praticar a violência e os níveis de frustração e raiva que ela sente. Os pais, mesmo que não agridam os filhos, podem estimular a violência quando brigam demais entre si. Os filhos amam os pais e, portanto, se espelham neles. Pais agressivos correm o risco de serem imitados pelos filhos.

Na escola, a frequência de conflitos entre as crianças pode aumentar se não houver espaço para brincadeiras. Outro motivo é quando a competição é estimulada em excesso no ambiente escolar, sem a explicação de que todos são igualmente capazes.

As frustrações e as adversidades também entram como possíveis motivos para a agressividade. Crianças que passaram por situações muito difíceis, podem seguir dois caminhos: ou se isolam, ou se manifestam com constantes agressões.

Permitir, castigar ou amparar?

Uma boa atitude para os pais utilizarem no dia a dia é reprovar com seriedade e firmeza no mesmo instante em que houver a agressão, dizendo que aquilo não é certo, mostrando as consequências daquela atitude.

Pais que usam a punição física para inibir comportamentos agressivos dos filhos também estão servindo como modelos agressivos, pois demonstram à criança que a violência tem poder e utilidade quando utilizam "tapinhas" na educação. Por outro lado, a permissividade perante a agressão (permitir à criança a expressão aberta e livre da agressão) tem o mesmo efeito de uma recompensa.

É preciso ensinar e auxiliar a criança a encontrar ferramentas apropriadas para resolver os problemas do dia a dia, é preciso mostrar que há outras maneiras de resolver as questões sem ser agredindo.

É muito comum encontrar pais que, temendo que seus filhos se tornem crianças "submissas", estimulam e reforçam positivamente a violência.

 Porém, mais importante que isso é mostrar à criança que foi agredida por um colega que o erro é desse colega e que ele copiará um erro se agredi-lo de volta. Apesar de não estarem com a personalidade totalmente formada ainda, as crianças são capazes de entender os limites que lhes são colocados.

Uma das medida eficiente é dizer para a criança que você compreende a raiva que ela está sentindo e que a raiva não é necessariamente algo feio, mas que deve ser dito.

Deve explicar-lhes que é normal se chatear ou se sentir aborrecido, mas a resposta não é bater, e mostrar para a criança a quem dizer como está se sentindo e descarregar assim as suas emoções. Ela precisa sentir confiança em alguém para contar o que está se passando.

No caso em que já tenha feito de tudo e não funcionou, convém procurar um terapeuta infantil para que possa encontrar a causa e canalizar suas emoções. Lembre-se que as crianças são agressivas porque aprendem a ser agressivas. Elas também podem deixar de sê-lo. 

(*) A autora é graduada em Psicologia pela Universidade Paulista. CRP:06/113629, especialista em Psicologia Clínica Psicanalítica pela Universidade Salesianos de São Paulo e Psicanalista. Atua como psicóloga clínica.

Esta coluna é uma peça de opinião e não necessariamente reflete a opinião do São Carlos Agora sobre o assunto.

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