quinta, 18 de abril de 2024
Memória São-carlense

40 anos de uma ideia genial, a criação do CDCC da USP

29 Nov 2019 - 07h10Por (*) Cirilo Braga
40 anos de uma ideia genial, a criação do CDCC da USP - Crédito: CDCC-USP Crédito: CDCC-USP

Os dias 30 de novembro e 1º. de dezembro de 2019 marcam os 40 anos do Simpósio de Interação Universidade-Escola Secundária, realizado no tradicional Instituto de Educação Doutor Álvaro Guião, que deu origem ao CDCC, Centro de Divulgação Científica e Cultural da USP.

Promovido pelo Instituto de Física e Química de São Carlos da USP, o Simpósio plantou a semente de uma ideia genial, consolidada em maio de 1980. Nada seria como antes no ensino e aprendizado de ciências.

O grande mentor do CDCC, o Professor Dietrich Schiel foi um homem que enxergou à frente de seu tempo. Demonstrou isso claramente ao mergulhar de corpo e alma naquele projeto inovador. Antes de tudo, um precioso instrumento de divulgação científica. Algo capaz de romper a barreira que separava o ensino básico do universitário.

Schiel, falecido em 2012 aos 72 anos, era professor do Instituto de Física de São Carlos, graduado em Engenharia Mecânica pela USP com doutorado em Física pela Technische Universität Stuttgart (1970), na Alemanha. Tinha experiência na área de educação e notabilizou-se como um grande educador científico. Além de fundar e impulsionar o CDCC e o Centro de Divulgação da Astronomia, coordenou o Laboratório de Aplicação e Desenvolvimento do programa TIDIA, da FAPESP.

Quem conviveu com o professor Dietrich foi contagiado pela maneira apaixonada com que ele se empenhou no trabalho notável que desenvolveu em São Carlos.

Para a cidade, a criação do CDCC foi um grande presente. Para os professores de ciências e para os alunos das escolas públicas e particulares um grande alento. Ou, como se diz, uma mão na roda. Passaria então ser possível interagir com as grandes universidades públicas e adquirir um valioso ponto de apoio para o ensino. E mais isso: despertar nos jovens alunos o gosto pela ciência, o desejo de um dia ser um pesquisador.

A Congregação do Instituto de Física e Química na gestão do Professor Milton Ferreira de Souza comprou a ideia e a Professora Regina Helena de Almeida Santos foi a primeira coordenadora do CDCC e Dietrich Schiel o vice-coordenador.  Vale a pena citar quem eram os membros do conselho:  os Professores Almir Massambani, Fernando Mauro Lanças, Robert Lee Zimmerman e Miguel Guillermo Neumann e os alunos Fernando Buffa e Fernando Tadeu Triques.

A criação do CDCC selou de fato a união da ciência com a educação e a cultura. Com seus cursos, mesas redondas, palestras e eventos de interessa da comunidade, além de convênios, o centro – localizado no histórico prédio construído em 1902 pela Società Dante Alighieri, e adquirido pela USP –, indicou o caminho do conhecimento. Passou a ser a Meca dos alunos do ensino fundamental e médio da cidade.

Aos professores do ensino fundamental e médio, o CDCC representou um canal de orientação específica nas áreas de química, física, matemática, biologia, educação ambiental e astronomia e abertura para pesquisas e aplicação de métodos alternativos de ensino.

A reduzida estrutura inicial não impediu que o CDCC mostrasse a que veio: de saída, instalou um plantão de dúvidas nas diversas áreas do conhecimento, realizou minicursos, feiras de ciências, cineclube, curso de fotografia e criou museus de física e biologia.

Nas escolas, passou a revitalizar laboratórios, e não tardou a criar sua maior novidade: a Experimentoteca, um dos principais programas e um dos grandes sucessos do CDCC que ganhou o país.  Algo pensado, elaborado e testado pela equipe do CDCC e professores de 1o e 2o graus.

Em 1984, recursos do CNPq viabilizaram a produção dos primeiros protótipos dos kits para uso nos Clubes de Ciências.

Passava a existir um instrumento ideal para turbinar as feiras de ciências, que no final da década de 1980 se espalharam pelas escolas da cidade como apoio do CDCC.

Em 1986, ano da passagem do cometa Halley, incorporou-se à estrutura do CDCC o Observatório Astronômico Dietrich Schiel do Centro de Divulgação da Astronomia (CDA), instalado no Campus I da USP.

Os locais de visitação do CDCC atualmente incluem dois jardins temáticos: “Jardim da Percepção” (edifício sede) e “Jardim do Céu na Terra” (campus I da USP de São Carlos), o Espaço Vivo de Biologia, o Espaço de Física e o Observatório.

A rica trajetória da CDCC está documentada no livro “Memórias do CDCC” organizado pelas servidoras do Centro, Edna Ricardo de Oliveira Ferreira e Sílvia Aparecida Martins dos Santos, sob a coordenação do Prof. Dr. Antonio Aprigio da Silva Curvelo (ex-diretor do CDCC). A obra, lançada em 19 de outubro de 2016, abordou as atividades do centro através do tempo, com apoio em pesquisas documentais e relatos entre os anos de 1980 e 2015.

Quarenta anos depois de plantada a semente inicial, os frutos do CDCC superam o que se imaginava naquele novembro de 1979. Alcançam decerto a formação de muitos pesquisadores que, quando crianças, se encantaram ali com a descoberta da ciência. De repente, fazer ciência não era algo inatingível e tampouco os cientistas tinham aquela imagem exótica idealizada dos filmes de ficção.

A um só tempo, o CDCC apontou caminhos para vencer dois desafios persistentes: o de promover o encontro da universidade com a comunidade e ajudar na melhoria do ensino básico.

É essa parceria a ponte para que São Carlos valorize o valioso capital representado pelos centros de ensino e pesquisa aqui instalados há muitos nos. E, de outro lado, um sinal para que as universidades não se contentem em apenas estar localizadas nesta cidade, mas se deem conta de que fazem realmente parte dela. (Com informações de “Memórias do CDCC”).

(*) O autor é cronista e assessor de comunicação em São Carlos  (MTb 32605) com atuação na Imprensa da cidade desde 1980. É autor do livro “Coluna do Adu – Sabe lá o que é isso?” (2016).

Esta coluna é uma peça de opinião e não necessariamente reflete a opinião do São Carlos Agora sobre o assunto.

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