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Educação

Mais um doutor formado na USP São Carlos é inserido no mercado de trabalho

30 Mai 2019 - 08h29Por Redação
Mais um doutor formado na USP São Carlos é inserido no mercado de trabalho - Crédito: Divulgação Crédito: Divulgação

José Francisco Miras Domenegueti é o mais novo aluno do IFSC/USP com doutorado concluído, com base em sua tese intitulada “Sensor óptico para análise da dinâmica de reações químicas”.

A pesquisa de Domenegueti baseou-se em um particular nicho de aplicação de uma técnica refratométrica – que mede o índice de refração – sendo este último, a grandeza física mais fundamental na descrição do comportamento da luz  nos mais diversos fenômenos ópticos.

Este tema foi uma continuação do trabalho que nosso entrevistado executou desde os tempos da Iniciação Científica e que se prolongou pela Graduação. A partir de seu orientador, Prof. Sérgio Carlos Zilio, que desenvolveu uma forma nova de realizar medições do índice de refração, foram exploradas desde medidas de umidade até a verificação da conformidade de combustíveis, passando pelo que deu origem à tese - a análise de interação entre pares de espécies químicas. “Sempre trabalhei com “Refratometria,” desde meu primeiro Projeto de Iniciação Científica, em 2010, sendo que a partir do meu segundo ano da Graduação mergulhei na pesquisa. Começamos com uma técnica mais sofisticada e terminamos por explorar uma técnica mais simples, já que, se eu consigo fazer uma medida boa, com uma técnica mais simples e mais barata, melhor”, salienta Domenegueti.Todo esse trabalho teve continuação em seu mestrado, quando começou a explorar mais a técnica com variáveis do ambiente - pressão, umidade, temperatura, etc.

Com pesquisas embasadas com auxílio de Bolsas PIBIC - Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica da FAPESP, seus estudos deram origem a outros trabalhos e ele se fixou nos biosensores para seu doutorado. A ideia de aplicar seu esforço nesse nicho - biosensores - partiu da importância que eles têm para diversos setores, em particular para a indústria de fármacos, que faz uso de dispositivos comerciais que estudam a relação entre pares químicos, buscando entender como eles interagem, as características sobre a dinâmica dessas interações, a afinidade entre pares de espécies químicas, o que permite entender, por exemplo, de que maneira é possível distribuir uma determinada droga em um organismo.
 

Juntar essa importância dos biosensores a partir de uma multidisciplinaridade, onde se pode misturar um pouco de  física com química e biologia, foram motivos para a escolha do título de sua tese, como explica nosso entrevistado. “Você tem um método interessante, preciso, rápido e barato, então, é necessário buscar onde se pode aplicar isso. Foi o que fizemos. Fomos até o Centro de Tecnologia Canavieira para entender como eles validam métodos para medir o percentual de sacarose em cana-de-açúcar e, com base nesse trabalho, publicamos um artigo sobre “Sacarimetria”, usando essa técnica”. Contratado atualmente pelo Departamento de Física da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Domenegueti afirma que ainda estuda a possibilidade de fazer um Pós-Doutorado, mantendo interesse na mesma pesquisa. Contudo, antes pretende colocar em prática as ideias que surgiram na sua tese, principalmente em uma aplicação de interesse social.

 

Natural de Franca, interior do estado de São Paulo, nosso entrevistado formou-se primeiramente em Matemática, em sua cidade, pois não tinha condições econômicas de partir em busca de outros cursos fora da sua região. Contudo, essa formação não o satisfez. “Eu tinha que trabalhar, pois minha família não tinha condições de me auxiliar financeiramente naquela época”, conta Domenegueti. Já formado, ele conseguiu dar aulas em uma escola pública de sua cidade durante um ano. Por ser formado em Matemática, surgiu uma oportunidade de fazer “Cursinho”. Como trabalhava como monitor de matemática e física podia assistir às aulas, fato que fez com que ganhasse uma “Bolsa Integral” para estudar. Domenegueti declara que sempre teve vontade de fazer Física, razão pela qual prestou vestibular para o Curso de Bacharelado em Física no IFSC/USP, na Unicamp e em Rio Claro. Passou em todas, mas optou pelo IFSC/USP. Desde muito novo, Domenegueti se mostrou extremamente curioso em saber como as coisas funcionavam. “Quando criança, eu quebrava os relógios para tentar saber como o ‘tempo funcionava’. Minha mãe não usa relógio até hoje, pois nunca conseguiu ficar com um relógio inteiro” divertindo-se ao recordar a história.

Seu primeiro contato com o vestibular foi no terceiro ano do colegial, através da UNESP, que disponibilizava algumas isenções de inscrição, tendo contado com o apoio de uma de suas professoras que o incentivou a tentar fazer as provas: “Dessa vez não passei, pois não tinha estudos suficientes e só consegui pegar uma bolsa do Pró-Uni, por isso me formei em Matemática”. No seu segundo ano no IFSC/USP, Domenegueti entrou em contato com seu orientador e ingressou no programa de Iniciação Científica como bolsista PIBIC: “Trabalhei bastante, passava minhas férias no Instituto. Eu tinha algum dinheiro guardado para as despesas inerentes ao primeiro ano do curso, dinheiro esse que foi fruto de trabalho que executei durante algum tempo, mas a partir do segundo ano, se não fossem as bolsas de iniciação científica eu provavelmente teria abandonado o curso em algum momento, pois não fazia jus a nenhum auxílio - por já possuir uma graduação -, nem moradia, nem alimentação, nada do tipo. O curso era integral e bastante exigente, então eu ficava na Biblioteca do IFSC/USP da hora que abria á hora que fechava; todos já me conheciam lá”.
 

Apesar da solidão e da distância da família e amigos, nosso entrevistado afirma que encontrou uma família na sua turma: “A gente chegava na Área I do Campus USP de São Carlos por volta das 06h30 e daí nos reuníamos no prédio da Arquitetura e logo após íamos caminhando até à Área II, pois era uma hora de caminhada e procurávamos chegar com meia hora de antecedência para poder descansar um pouco antes de começar a aula. Nosso professor não “pegava leve” pois ele ia para lá de bicicleta, daí não tínhamos a desculpa da falta de ônibus, principalmente devido à greve de 2009”, recorda com humor. Nosso entrevistado conta que todos eles passavam o dia inteiro juntos, da hora do café á hora do jantar, discutindo e estudando Física, especialmente nos intervalos de cada atividade. Havia muito esforço e determinação, tudo isso durante os quatro anos de graduação. Mas, apesar de todas as dificuldades, ele nos garante que “valeu a pena”.

Para Domenegueti, ser Físico é ser curioso. “Hoje, a Física não se restringe aquele conteúdo tradicional, já que essa área de conhecimento está diretamente relacionada aos estudos e trabalhos ligados á Medicina, Biologia, Química e muitos outros. Você consegue uma formação muito mais sólida em Matemática do que em outras áreas, e conseguimos ter um conhecimento muito mais fundamentado da maior parte dos fenômenos, comparativamente com outros cursos de exatas, e esse conhecimento pode ser aplicado em qualquer lugar”. Nosso entrevistado deixa uma mensagem para quem está ingressando na área, ou pretende iniciar a carreira de Físico: “Não desanimem. Será preciso adquirir uma maturidade um pouco maior mais cedo, devido a todas essas incertezas atuais. É preciso ter muita consciência dessa escolha. Se a escolha não for consciente, ela pode te levar a um conflito existencial muito profundo. Porém, se a escolha de ser Físico for consciente, lidar com essas turbulências vai transcorrer de uma maneira bem mais natural”. Ele finaliza, afirmando que o IFSC/USP, na sua época, proporcionou uma formação básica de nível mundial, comparável com as melhores faculdades de Física no exterior: “Boa parte da minha turma fez provas de avaliação em Física para ingressar em pós-graduação em outros países, como EUA e Canadá, e todos passaram com bolsas atribuídas por esses mesmos países”.

Domenegueti também deixa uma sugestão: “Seria interessante poder dar uma flexibilidade maior aos professores da pós-graduação para ministrarem mais disciplinas específicas, de forma que garanta que seus alunos tenham uma formação mais sólida na área de pesquisa deles, para que possam alavancar com mais velocidade o desenrolar de uma pesquisa. A parte básica tem que ficar na graduação, para não perdermos tempo com o que já foi estudado”. (Rui Sintra & Lilian Tarin - IFSC/USP) 

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